05
Set07
Recluso drogado: por que não tratá-lo?
linhatoxicodependencia
Publicou o "Expresso", dia 23 de Setembro último, uma reportagem sobre uma “sala de
chuto” em Madrid - “No inferno das seringuilhas” -, acompanhada de um artigo de opinião, em que o signatário propôe a sua implantação no meio prisional português.
Partindo do pressuposto que, conforme reza a edição da Presidência do Conselho de Ministros da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, “…é importante que quem está incluído em programas de redução de danos (como são as 'salas de chuto', as trocas de seringas e a distribuição de drogas de substituição) conheça os seus objectivos limitados, saiba da existência dos programas de tratamento e a eles tenha acesso facilitado”, e sendo universalmente aceite que o factor tempo é o mais decisivo na recuperação do toxicodependente, sendo que logicamente na prisão ele tem todo o tempo do mundo… então por que não tratá-lo?!
Dizia o antigo ministro da Justiça, Dr. António Costa, em entrevista à Visão: “Não podemos pedir à prisão que passe a ser outra coisa, a escola, o centro de tratamento, o hospital.” E eu pergunto, porquê?
Por que não aproveitar a circunstância para estabelecer com o recluso toxicodependente – cerca de 70% da população prisional portuguesa - um novo projecto de vida, com a ajuda de uma equipa pluridisciplinar e profissionalizada, composta entre outros por clínicos gerais, psiquiatras, enfermeiros, técnicos de aconselhamento e assistentes sociais, apostada num acompanhamento psicosocioeducativo adequado?
Porque não transformar aquele espaço, tradicionalmente um espaço de tristeza, de violência, de doença e de miséria moral e afectiva, num novo espaço de esperança – o que constitui, de facto, barreira para um tratamento com sucesso, é a falta dela! – um espaço onde o recluso toxicodependente aprenda a reconhecer e a evitar toda uma gama de estímulos que condicionaram no passado o seu comportamento toxicodependente, ajudando-o dessa forma a extinguir as respostas condicionadas por esses estímulos, e que, indo ao encontro da finalidade para que foi criada, se constitua uma verdadeira antecâmara para uma vida de novo autónoma, responsável e apetecível?
Argumentar-se-á que a empreitada é impossível porque isso pressuporia acabar com o tráfico de droga no interior das prisões, e isso ninguém acredita.
Neste aspecto, a perspectiva vigente é que o consumo existe porque há tráfico e que nunca se conseguirá acabar com ele, só que ela está completamente errada.
Há tráfico porque há consumo!
Concordando que quando há procura é praticamente impossível evitar a resposta da oferta – toda a economia de mercado é dominada pela soberania do consumidor – porque não reprimir a verdadeira origem do fenómeno, o consumo de drogas, desintoxicando e tratando os seus utilizadores, gastando no processo os recursos necessários?
Trocas de seringas ou “salas de chuto” dentro das prisões?
Como é possível a prisão cumprir o seu papel organizando a continuação da toxicodependência?
Logicamente que assim, saindo o recluso dependente com a mesma cabeça com que entrou, será uma questão de tempo voltar lá outra vez!
Outro aspecto não menos importante é, como se pode pretender que, fornecendo a parafernália adequada à manutenção do vício, se consigam diminuir depois as doenças a ele associadas?
Como muito bem dizia o presidente do Sindicato dos Guardas Prisionais, a medida: “Não vai combater em nada as doenças infecto-contagiosas. Pelo contrário, poderá aumentar a propagação. E depois é a utilização das seringas como arma.”
Máquinas de distribuíção de seringas? Como é que alguém conseguirá parar com as drogas, vendo permanentemente o vizinho do lado a drogar-se?
E qual o papel do guarda prisional perante um ambiente de consumo livre?
Qual deverá ser a sua atitude para com o recluso que apresenta à sua frente droga para se injectar? (A mesma questão fora das prisões: qual deverá ser o papel do polícia que intercepta o “junkie” com droga? Vai medir a distância que o separa da sala de chuto?)
P.S.1 -Medidas como estas, ditas de “redução de danos” e as vantagens económicas e políticas que trazem a certos grupos, têm contribuído largamente para o actual estado da nação do problema da droga em Portugal, como se sabe, nesta problemática, na cauda da Europa.
A propósito seria bem conveniente e interessante investigar as instituições constituídas e/ou acarinhadas por quadros superiores dos organismos relacionados com esta matéria e que são efectivamente campeãs na arrecadação de subsídios na política de combate à toxicodependência!
P.S.2 – Já agora para quando os bares para consumo protegido e recatado para os alcoólicos, em bem maior número que os heroínómanos, e as auto-estradas sem limite de velocidade, com melhor piso, para os automobilistas que quiserem andar com um bocadinho mais de segurança a 250 km por hora?
Manuel Pinto Coelho
(Presidente da APLD)
Partindo do pressuposto que, conforme reza a edição da Presidência do Conselho de Ministros da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, “…é importante que quem está incluído em programas de redução de danos (como são as 'salas de chuto', as trocas de seringas e a distribuição de drogas de substituição) conheça os seus objectivos limitados, saiba da existência dos programas de tratamento e a eles tenha acesso facilitado”, e sendo universalmente aceite que o factor tempo é o mais decisivo na recuperação do toxicodependente, sendo que logicamente na prisão ele tem todo o tempo do mundo… então por que não tratá-lo?!
Dizia o antigo ministro da Justiça, Dr. António Costa, em entrevista à Visão: “Não podemos pedir à prisão que passe a ser outra coisa, a escola, o centro de tratamento, o hospital.” E eu pergunto, porquê?
Por que não aproveitar a circunstância para estabelecer com o recluso toxicodependente – cerca de 70% da população prisional portuguesa - um novo projecto de vida, com a ajuda de uma equipa pluridisciplinar e profissionalizada, composta entre outros por clínicos gerais, psiquiatras, enfermeiros, técnicos de aconselhamento e assistentes sociais, apostada num acompanhamento psicosocioeducativo adequado?
Porque não transformar aquele espaço, tradicionalmente um espaço de tristeza, de violência, de doença e de miséria moral e afectiva, num novo espaço de esperança – o que constitui, de facto, barreira para um tratamento com sucesso, é a falta dela! – um espaço onde o recluso toxicodependente aprenda a reconhecer e a evitar toda uma gama de estímulos que condicionaram no passado o seu comportamento toxicodependente, ajudando-o dessa forma a extinguir as respostas condicionadas por esses estímulos, e que, indo ao encontro da finalidade para que foi criada, se constitua uma verdadeira antecâmara para uma vida de novo autónoma, responsável e apetecível?
Argumentar-se-á que a empreitada é impossível porque isso pressuporia acabar com o tráfico de droga no interior das prisões, e isso ninguém acredita.
Neste aspecto, a perspectiva vigente é que o consumo existe porque há tráfico e que nunca se conseguirá acabar com ele, só que ela está completamente errada.
Há tráfico porque há consumo!
Concordando que quando há procura é praticamente impossível evitar a resposta da oferta – toda a economia de mercado é dominada pela soberania do consumidor – porque não reprimir a verdadeira origem do fenómeno, o consumo de drogas, desintoxicando e tratando os seus utilizadores, gastando no processo os recursos necessários?
Trocas de seringas ou “salas de chuto” dentro das prisões?
Como é possível a prisão cumprir o seu papel organizando a continuação da toxicodependência?
Logicamente que assim, saindo o recluso dependente com a mesma cabeça com que entrou, será uma questão de tempo voltar lá outra vez!
Outro aspecto não menos importante é, como se pode pretender que, fornecendo a parafernália adequada à manutenção do vício, se consigam diminuir depois as doenças a ele associadas?
Como muito bem dizia o presidente do Sindicato dos Guardas Prisionais, a medida: “Não vai combater em nada as doenças infecto-contagiosas. Pelo contrário, poderá aumentar a propagação. E depois é a utilização das seringas como arma.”
Máquinas de distribuíção de seringas? Como é que alguém conseguirá parar com as drogas, vendo permanentemente o vizinho do lado a drogar-se?
E qual o papel do guarda prisional perante um ambiente de consumo livre?
Qual deverá ser a sua atitude para com o recluso que apresenta à sua frente droga para se injectar? (A mesma questão fora das prisões: qual deverá ser o papel do polícia que intercepta o “junkie” com droga? Vai medir a distância que o separa da sala de chuto?)
P.S.1 -Medidas como estas, ditas de “redução de danos” e as vantagens económicas e políticas que trazem a certos grupos, têm contribuído largamente para o actual estado da nação do problema da droga em Portugal, como se sabe, nesta problemática, na cauda da Europa.
A propósito seria bem conveniente e interessante investigar as instituições constituídas e/ou acarinhadas por quadros superiores dos organismos relacionados com esta matéria e que são efectivamente campeãs na arrecadação de subsídios na política de combate à toxicodependência!
P.S.2 – Já agora para quando os bares para consumo protegido e recatado para os alcoólicos, em bem maior número que os heroínómanos, e as auto-estradas sem limite de velocidade, com melhor piso, para os automobilistas que quiserem andar com um bocadinho mais de segurança a 250 km por hora?
Manuel Pinto Coelho
(Presidente da APLD)